Não havíamos marcado
hora, não havíamos marcado lugar. E, na infinita possibilidade de lugares, na
infinita possibilidade de tempos, nossos tempos e nossos lugares coincidiram. E
deu-se o encontro.
Amado irmão, amada
irmã,
Saúdo você que saiu
de sua casa nesta noite para rezar, com o coração sedento de Deus, ansioso por
ouvir a Palavra de Deus que preenche o coração...
Saúdo você que nem
queria vir, mas, por algum compromisso
saiu de sua casa e veio participar deste momento de fé...
Saúdo você que anda
sem fé... Não tem tido alegria e nem vontade de rezar, mas que está aqui...
Pode ser que você não tenha saído de sua casa para ouvir este sermão, mas Deus
atraiu você e o colocou aqui nesta praça... a praça da antiga prefeitura, a
praça da Igreja das Dores, a praça do obelisco que marca o aniversário da
cidade, mas, definitivamente, a “Praça do Encontro”, não qualquer encontro de
amigos e namorados que quem sabe aqui neste lugar venham a se reunir, não praça de encontro, mas do mais belo encontro
que já existiu: o encontro de Jesus, chagado, ferido, humilhado com sua mãe,
aflita, preocupada, sofrida por ver a dor do Filho... Encontro imortalizado de
uma forma tão bela por mãos de artista, na tela pintada pela saudosa senhora
Julieta Bacha, que do “passo” situado aqui na sua casa, emana ternura e
cumplicidade... Mãe e filho nem precisam falar... nenhuma palavra se faz
necessária, quando a comunicação se processa de coração para coração... Não
fosse assim, Maria não teria reconhecido Jesus, ferido e chagado, desfigurado,
irreconhecível...
Os enamorados também não precisam se
falar... Basta o olhar... basta o coração com coração. O ser humano tem
necessidade do encontro, pois ele humaniza. O ser humano tem necessidade de um
olhar que seja expressivo, tem necessidade do toque. O outro mostra quem eu
sou, revela-me os segredos mais escondidos dentro de mim mesmo... Ao longo da
vida nos relacionamos com as pessoas e elas nos marcam profundamente... Deixam
algo de si em nós e levam muito do que está em nosso coração. Não há como viver
sem se relacionar com os outros. O homem não é ilha!
Já
bem disse Vinícius de Moraes, no “Samba da Bênção” que “a vida é a arte do encontro”... Como é bom
encontrarmo-nos com as pessoas que amamos. Imagino o quanto enche de alegria, a
ponto de transbordar, o coração da mãe que se encontra com o filho que estava
longe. E a emoção dos apaixonados que suspiram felizes contando as horas para
estar na presença da pessoa amada. Encontros que preenchem... Encontro feliz tem as pessoas que vivem
sozinhas e tem sua solidão povoada por algum amigo que liga ou lhe visita.
Encontros que confortam... Encontro feliz tem os amigos quando se reúnem para
partilhar a vida e jogar conversar fora. Encontros que refazem. Encontro bom tem
a família reunida, seja em que data for, mas reunida... Nas festas... Encontros
que celebram...
Ah,
como seria bom se os momentos felizes de encontros fossem eternos. Oh,
crueldade a do tempo que ceifa os momentos felizes na presença de quem amamos!
E quando estes encontros deixam de existir, finalizados pela fúria do Kronos,
surge no coração a saudade, que perpetua em nós presenças, situações e lugares
que foram capazes de marcar-nos no mais profundo do coração.
“A
vida é a arte do encontro”, diz Vinícius de Moraes, “embora haja tanto
desencontro pela vida”... Infelizmente, nem todos os encontros são felizes,
deixam feridas no coração... Infelizmente, nem sempre os encontros acontecem
como deveriam... Fico pensando em quantos desencontros acontecem dentro de
casa... Quanta gente que apenas mora junto, mas não convive, não partilha vida,
dores, sofrimentos e alegrias. Esposos preocupados unicamente com seus
interesses ou com suas diversões pessoais... deixam de ser amigos, perdem a
alegria e o encanto do amor. Há pessoas, e não uma, nem duas, mas muitas, que
são mais amigas das pessoas de fora, do que daquelas que Deus colocou dentro de
sua casa. Dentro de casa não há diálogo... Cada um tem a sua vida, o seu
dinheiro, os seus projetos, os seus sonhos... individuais e individualistas!
Não houve encontro! Sem contar que, neste mundo tecnológico e tão acelerado na
virtualidade, criam-se mundos paralelos que impedem a pessoa de viver o real.
Como é triste ver numa casa, cada um com o seu computador ou com o seu smartphone...
Nunca celebram as alegrias e vitórias por inteiro... Estão sempre de corpo
presente diante das pessoas... Nunca falam de si, abrindo o coração e buscando
um ajudar o outro se for preciso. Convivência virtual pelas redes sociais, mas
no contato com as pessoas reais os olhares não se cruzam e a comunhão não
acontece... E as pessoas vão se desumanizando, tornando-se cada vez mais frias
e insensíveis. Como seria bom se as pessoas se visitassem mais e falassem mais,
antes de se entregarem às redes sociais, tão vazias...
E
aqueles que batem à nossa porta e precisam de nosso olhar... Quanto desprezo e
indiferença. Se a pessoa não pode contribuir com alguma coisa para me
beneficiar, ela não me interessa, deve ser descartada. É preciso romper
definitivamente a estrutura individualista e egoísta que leva-nos a achar que
nos bastamos, que podemos viver sem o outro. Como diz o papa Francisco é
preciso criar a cultura do encontro, da comunhão, da participação, da inserção
na vida uns dos outros... Foi assim que Jesus viveu e foi por isso que Ele
mexeu tanto com as pessoas, pois quando havia alguém renegado, esquecido,
jogado ao chão, Jesus saia de si e ia até essa pessoa, para tocar-lhe o
coração. No encontro, precisamos aprender de Deus a tomar a iniciativa: não
esperar que a pessoa que me ofendeu venha até mim... Eu devo ir até ela e
dar-lhe o meu perdão. Aliás, quanta gente arrastando mágoas e ressentimentos
vida a fora... Mataram outras pessoas dentro de si e estão como verdadeiros
sepulcros... Cheiram mal, pois trazem no coração o cadáver do marido, da
esposa, dos pais, dos filhos... e por orgulho não pedem perdão.
Para
o encontro acontecer é preciso sair de si... e muitas vezes é preciso tomar a
iniciativa... Como jesus, no episódio do seu encontro com a mulher samaritana:
rompeu qualquer empecilho, qualquer limite social, racial, de gênero... judeus
e samaritanos não falavam-se... homens não podiam conversar sozinhos com as
mulheres... mas naquele dia, lá no poço de Jacó, antes da mulher chegar para
buscar água, jesus a esperava... Tomou a iniciativa. Que iniciativa você
precisa tomar hoje¿ Se aqui na praça estiver alguém que você precise perdoar,
faça isso agora, vá até essa pessoa... não deixe pra amanha, tome a iniciativa.
Nós
precisamos do encontro uns com os outros, mas muito mais que isso, nós
precisamos do encontro com Deus, pois fomos feitos para ele. Da mesma forma
como a abelha precisa da flor, nós precisamos de Deus, da mesma forma como o
rio percorre um longo caminho para se encontrar com o mar, nós estamos
endereçados ao encontro com Deus, muito mais que a necessidade que temos de ar,
necessitamos estar nos braços de Deus. Mas muito antes, Deus quer ter
necessidade de nós. O encontro que nós vemos aqui é o encontro entre Deus e a
humanidade (aproximam-se as imagens).
Deus
que fez o ser humano para ter alguém com quem dialogar, não se viu satisfeito
com o afastamento do homem da sua presença. O pecado retirou o homem da
presença de Deus... Quanto desencontro! O homem andou por muitos caminhos e se
fatigou. Desfigurado perdeu a sua identidade. Mas nesta cena nós contemplamos
Deus ferido e chagado para resgatar a humanidade de sua aventura frustrada de
querer conduzir sua vida sem Deus.
A distância se rompeu, (aproximam-se as imagens)
a saudade acabou, a presença novamente pode ser sentida... Deus e humanidade...
Jesus e Maria... Um abraço que jamais deixará de ser e se nos encontros somos
assaltados pelo tempo, pelo Kronos que nos priva da pessoa amada, aqui está quem
é senhor do tempo: este abraço é eterno e este encontro não tem fim, pois nada pode romper os laços que
nos unem a Deus... Nem as torrentes da grandes águas podem nos separar do amor
de Deus, pois as chamas deste amor são fogo ardente e nem mesmo a morte é maior
que este amor
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